O atavismo fez explodir neste com
rábida energia todos os vícios constitucionais que bacilavam no sangue da sua
raça, exagerados numa confluência de seis gerações, de envolta com instintos
doidos de pederasta, inoculados e progressivamente agravados na sociedade portuguesa
pelo modalismo etnológico da sua formação. A inversão sexual do amor, o cultodos efebos, a preferência dada sobre a mulher aos belos adolescentes (+), veio-nos
com a colonização grega e romana. Nos Gregos a pederastia era uma paixão comum
e de nenhuma forma desprezível. Cantavam-na e celebravam-na publicamente. A
obscena invenção de Ganimedes, príncipe troiano de uma beleza maravilhosa, arrebatado
e transportado ao Olimpo pela águia de Júpiter para substituir Hebe, a hetera
divina, no serviço particular dos deuses, dá o documento frisante de quanto era
honrado o efebismo na antiga Grécia. Este vício era mesmo trivial em todo o
Oriente. Na mitologia indiana há um episódio análogo ao rapto daquele favorito
de Júpiter. Refere o Vaschkala, um
dos upanischads do Rig Veda, que Indra em pessoa empolgou,
com um gesto fulminante de ave de presa, o jovem Medhatithi, transportando-o
depois às mais apartadas e mais sagradas culminâncias através dos mundos e dos
céus.
Os Romanos imitaram, e excederam por conseguinte, os povos mais velhos do Oriente no gosto da pederastia. Ao
tempo de Augusto, o amor de homem para homem era a mais banal das paixões. Muitas
vezes, na risonha península da Etrúria e do Lácio, o véu da amizade encobria
infamíssimas torpezas; pensava-se que a reciprocidade no gozo sensual era o
melhor laço para o coração de dois amigos (+). Julgava-se a amizade dependente de
um apetite lascivo, conjugada com a ligação carnal. Os grandes modelos de
dedicação fraterna que nos oferece a História, — Castor e Pólux, Pirítoo eTeseu, Pilades e Orestes, Alexandre e Efestion, Harmódio e Aristogíton, os doisfilhos de Adiatórix, os nossos dois Ximenes, Antínoo e Adriano, Patroclo eAquiles, — não passam os mais deles de espécimes aberrativos de mútuas complacências
libidinosas.
De Roma é claro que a paixão
dentro do mesmo sexo alastrou para as colónias. A contaminação era fatal.
Sofreu-lhe os efeitos a Península Hispânica, mormente no sul e no oeste, aonde
mais demorada e mais poderosa foi a influência etológica dos Romanos. Depois
vieram os Bárbaros do Norte inocular sangue novo no derrancamento crapuloso do
império. A transfusão foi crudelíssima. Operaram, destruindo. Mas por trás da
arrogância bestial da sua arremetida vinha apontando a generosa unção de um
mundo novo. Aquela treva aparente mascarava uma alvorada. Eles traziam da
penumbra druídica das suas florestas os elementos sociais que faltavam ao Ocidente
gasto e decrépito: a liberdade pessoal, a sinceridade da crença, a disciplina,
o valor, a ordem, a consagração da virtude, o respeito da família, o amor pela
mulher. A regeneração foi prodigiosa (+). Dos escombros da assolação ergueu-se, —
pura, sadia, idealista, ingénua, — a sociedade medieval (+).
Contudo, nesta reparação salutar
dos povos latinos o gérmen mórbido resistira, latente. Mais tarde, a
civilização árabe pô-lo a claro; depois, o abuso do monaquismo e das expedições
náuticas longínquas favoreceram-lhe o desenvolvimento, agora piorado do
apeganho ruim da cronicidade.
Compreende-se como centenas de
homens válidos, desviados da labuta habitual da vida e mantidos em contacto
reciproco permanente; com a imaginação e a carne falando alto, excitadamente, na eterna ociosidade da clausura ou na estreita e forçada permanência a bordo;
sistematicamente afastados do comércio de qualquer ordem com a mulher, haviam
de por força procurar iludir artificialmente, em ascoentas aproximações de uns com os outros,
as iniludíveis exigências dos seus instintos sexuais. Daí a desvirtuação dos sexos; a
obliteração das funções genésicas; o amor saciado grotescamente,
incompletamente; a luxúria olhada como um fim, como uma regalia sensorial da
carne, em vez de ser cultivada na compenetração do seu mister sagrado, como um
simples meio de provocar a gestação (+).
Na última integração da sua
fisionomia social os conventos não foram mais do que isto, — uma criminosa burla
ao dinamismo prolífico da natureza, uma cravagem de centeio mística, um veto espiritual à maternidade. Eram casas toleradas de prostituição,
defendidas pelo lema hipócrita do voto. O mundo antigo era mais franco. Na
Grécia os efeminados varriam galhardamente com as suas caudas de púrpura as
lajes das praças públicas, sob a luz magnânima do Sol; no mundo latino os
tonsurados, do primeiro cardeal ao derradeiro fâmulo, erguiam furtivamente o
burel ou a seda na sombra cúmplice dos claustros, e entregavam-se baixando os
olhos contritos ante as imagens de Deus.
Com a diuturnidade da causa, o
mal prosperou, azedou, enraizou-se, alargou sobre a geração de hoje um império feroz
e dissolvente.
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