Mercearia antiga |
"Numa mercearia ao lado, a gente da geral comia pão com queijo e decilitrava."
A geral era (e ainda é, nalguns casos restantes) a zona de bilhetes mais baratos das salas de espetáculos, em que por vezes se tinha má visibilidade para o palco ou em que não havia cadeiras, e os espetadores eram obrigados a ficar de pé. Quem comprava bilhete para a geral era o "povo", as pessoas de menos posses, os que no intervalo saíam para a mercearia ao lado para comer pão com queijo e beber vinho tinto em "copos de dez" (dez centilitros, ou seja um decilitro). Atualmente já não se come nas mercearias e o "pessoal" passou a ir "morfar" "sandes" às "roulotes".
"Os garotos insinuavam-se pelos grupos, gritando: — Senhas mais baratas... Quem vende a senha?"
Julgamos que serão senhas distribuídas no intervalo a quem saía para a rua, para garantir que no recomeço só entrava quem tivesse pago bilhete. Ao que parece, havia à época um mercado para estas senhas: quem já não pretendesse regressar depois do intervalo, podia vender a sua senha a quem quisesse assistir à segunda metade do espetáculo sem ter que pagar o preço do bilhete inteiro.
"— Como paxaste?... comentou agre o garoto."
Trata-se de uma expressão informal que encontrámos em revistas e jornais, sobretudo de caráter satírico ou cómico, desde os finais do século XIX até ao primeiro quartel do século XX, e que deixou de ser usada. Será equivalente ao atual "querias?" Curiosamente, a linguagem abreviada dos SMS retomou o "paxaste" como forma rápida de escrita de "passaste".
"— O senhor deixe-me... já le disse."
O rapaz era respeitoso (trata o barão por "senhor"), mas não tinha muita educação (diz "le" em vez de "lhe").
"O rapaz encarou-o muito, entre compassivo e espantado; pareceu refletir; e por fim resmoneou:"
"E a arenga continuava"
"A certas frases, que o barão lhe coava mais baixo no ouvido"
"Um Demóstenes do vício."
Demóstenes (nasceu em 384 a.C. e morreu 322 a.C.) foi um dos maiores oradores da Grécia Antiga.
Demóstenes (nasceu em 384 a.C. e morreu 322 a.C.) foi um dos maiores oradores da Grécia Antiga.
"o longo bigode cofiado tremulamente pelos dedos emaciados."
"a multidão vinha escoando do Salitre para o largo, apressada, muda, apagada na monotonia dos abafos."
Que bela forma de descrever as pessoas que, em fim de festa, ao sair, se deparam com uma noite escura, fria e chuvosa no seu caminho para casa.
"Crescia um grande ruído de pés espatinando a lama."
Não conseguimos encontrar em dicionário, embora se encontre noutras obras de Abel Botelho e de Fialho d'Almeida. Talvez seja, neste caso, usado com o sentido de patinhar?
"Raro, algum grupo de rapazes, lestos, corpinho bem feito"
Esta expressão, que ainda é usada atualmente, indica a utilização de pouca roupa sobretudo quando as condições meteorológicas aconselham o contrário. Por exemplo, "queres ir em corpinho bem feito, com este frio?" (em A pedinte de Lisboa, de Alfredo Possolo Hogan, 1859).
"o trilo de uma risada."
trilo (s. m.) 1. [Música] Ornato na execução musical que consiste na alternação muito rápida, mais ou menos prolongada, de duas notas imediatas. 2. Trinado; gorjeio.
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