18 de julho de 2012

O 'vício' homossexual do barão


Esta nota refere-se à secção 4 (que pode ler aqui) .


O Castigo dos Sodomitas (pormenor do fresco O Juízo Final)
Miguel Ângelo (Capela Sistina, 1534-41)
Logo no início do romance é feito o'retrato' da homossexualidade do barão que logo se classifica moralmente. Vejamos as seguintes passagens:

"A súbita aparição daquele par honesto e simples, caindo de chofre, com toda a galharda e lúcida expansão de uma vida exemplarmente calma no torvelhinante mistério da alucinação do seu vício, envergonhou-o, aclarou-lhe a razão, deu-lhe a medida do próprio aviltamento, e, como um raio de luz faiscando nas estalactites de uma caverna, acordou-lhe na consciência um repelão de remorso. Corou, atabalhoou, agitou-se, e após uns segundos de arreliante embaraço, mal conseguiu balbuciar:"

O contraste entre o casal heterossexual, "honesto e simples" e "exemplar" com a pederastia do barão, que é descrita como um "torvelhinante mistério", um "vício alucinante" é marcada, tal como os sentimentos do barão em relação a este encontro inesperado com a 'virtude': "peso na consciência", "remorso", "embaraço".

"— Muito louvável, minha senhora, muito louvável... — apoiou o barão, já outra vez empolgado pelas degenerescências do sangue, e fixando com avidez um efebo que vira despontar das bandas do Passeio."

Mas pior, apesar de reconhecer conscientemente o seu vício, de que se envergonha, este é mais forte que ele, e o barão, "empolgado pelas degenerescências do sangue", distrai-se da conversa com o casal "exemplar" para focar a sua atenção "lúbrica" num efebo que se aproxima e que ele cobiça.


Estamos pois perante uma degeneração, um vício alucinante, embaraçoso e misterioso, a que não se consegue resistir logo que nos deixamos prender pelas suas garras.

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