22 de julho de 2012

Sócrates e Alcibíades

Esta nota refere-se à secção 5 (que pode ler aqui) 

Banquete (cerca de 475 AC,  fresco de túmulo em Paestum, Magna Grecia)
A relação amorosa entre Sócrates e Alcíbiades foi apropriada como ícone gay na literatura moderna e chegou até nós sobretudo pelo O Banquete, de Platão(escrito por volta de 380 a. C.) em que celebremente se refere que o jovem mais belo de Atenas, Alcíbiades, se apaixonou pelo velho mais feio, Sócrates.
Sócrates
Sócrates (nasceu em Atenas, em 469 a.C., onde morreu em 399 a.C.), foi um filósofo ateniense, um dos mais importantes da tradição filosófica ocidental. É considerado por muitos filósofos como o modelo de filósofo. Foi o professor de Platão, um dos filósofos mais influentes de todos os tempos.
Alcibíades 
Alcibíades (nasceu cerca de 450 AC, morreu em 404 ou 403 AC) foi um político e comandante militar ateniense, apresentado por Platão como um jovem de muito belo e o aluno mais distinto de Sócrates.
Sócrates e Alcibíades em O Banquete, de Platão
Alcibíades irrompe pelo banquete (o banquete grego, ou symposion, era um jantar seguido de um período em que se serviam bebidas alcoólicas e se discutiam assuntos, muitas vezes pré-combinados) já bêbado e a meio da discussão, que nessa noite versava o eros (empregado na Grécia Clássica sempre com uma carga erótica, e portanto diferente do conceito atual de amor).
Alcibíades surpreende-se ao ver Sócrates no banquete e insinua que este o persegue. Sócrates, por seu lado, implora a Ágaton que o defenda de Alcibíades ("Desde os tempos em que me apaixonei por ele não me é permitido sequer olhar ou conversar com um único jovem belo! De contrário, aí o tenho à perna com os seus ciúmes e quezílias, a fazer-me cenas incríveis, a cobrir-me de injúrias...").
Alcibíades, desafiado pelos outros comensais, lança-se então num elogio a Sócrates, em que exalta as suas qualidades de oratória ("logo que [Sócrates] começa a falar, fico fora de mim, o meu coração começa a saltar no meu peito, as lágrimas escorrem-me pelo rosto") e o compara a silenos e sátiros e conta uma história da sua juventude em que, usando os seus encantos físicos, tentou seduzir Sócrates: "Eis que o convido para jantar, muito simplesmente à maneira de um amante (erastesque prepara uma cilada ao seu bem-amado (eromenos)..." para conseguir obter dele tudo o que ele sabia. Mas em vão, mesmo depois de todos se terem ido e de Alcibíades se ter deitado no leito de Sócrates, sob a sua capa, nada mais aconteceu "do que se tivesse dormido com o meu pai ou com um irmão mais velho".
No final do diálogo, Sócrates e Alcibíades permanecem distantes e Sócrates remata: "Julgas, é claro, que eu tenho obrigação de te amar a ti e a mais ninguém. Mas não, não me escapaste, essa tua comédia de sátiros e silenos foi por demais evidente".


Fontes:
O Banquete, Platão, Edições 70, 2008 (tradução de Maria Teresa Schiappa de Azevedo)

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